Minha admiração pela complexidade da limpeza profissional atingiu seu ápice durante uma longa conversa com um amigo, que é diretor de um grande hospital em Belo Horizonte. Eu o elogiei pela limpeza impecável dos corredores. Ele sorriu e me disse: “Doutor, o que você vê aqui fora é o básico. A verdadeira batalha pela segurança do paciente acontece dentro dos quartos, e ela é dividida em dois exércitos com nomes e missões muito diferentes: a limpeza concorrente e a limpeza terminal“.
O erro é pensar que “limpeza hospitalar” é uma coisa só. Entender a diferença entre essas duas modalidades é compreender os diferentes níveis de risco e os rigorosos protocolos que existem para proteger a vida.
A Limpeza Concorrente: A Manutenção da Segurança
O meu amigo me explicou que a limpeza concorrente é aquela realizada todos os dias, pelo menos uma vez por turno, com o paciente presente no leito. O objetivo dela é manter um ambiente seguro e reduzir a carga de micro-organismos durante a internação.
A equipe de higienização, com seu carrinho de materiais codificados por cores, realiza uma limpeza metódica. O foco são as superfícies de alto contato: as grades da cama, a mesa de cabeceira, o controle remoto, o interruptor de luz, a maçaneta da porta. A textura dessa limpeza é a da discrição e da eficiência. O trabalho é feito de forma rápida e silenciosa, para não incomodar o paciente que está em um momento de fragilidade.
A Limpeza Terminal: O ‘Reset’ para a Vida
A limpeza terminal, por outro lado, é um procedimento muito mais drástico e completo. Ela acontece quando o quarto é desocupado (seja por alta, transferência ou, infelizmente, óbito). O objetivo é “zerar” o ambiente, eliminando qualquer vestígio de micro-organismos deixados pelo paciente anterior, para que o quarto esteja absolutamente seguro para o próximo.
O som de um quarto em limpeza terminal é o da ausência. O leito é desmontado, o colchão é selado e higienizado, as paredes, as janelas, o teto, tudo é meticulosamente limpo e desinfetado. O procedimento pode levar horas. É uma higienização do teto ao chão, de dentro para fora. É o mais alto nível de desinfecção.
Uma Lição sobre Níveis de Cuidado
A comparação entre a limpeza hospitalar terminal vs concorrente foi uma aula sobre gerenciamento de risco e sobre a seriedade do trabalho de higienização em um ambiente de saúde. Entendi que a segurança do paciente é construída por esses dois processos, que se complementam. A concorrente mantém a segurança durante. A terminal garante a segurança entre um paciente e outro.
Saí daquela conversa com um respeito ainda maior pelos profissionais de limpeza hospitalar. Eles são soldados silenciosos em uma guerra invisível, e o rigor do trabalho deles, em cada uma dessas modalidades, é um dos pilares que sustentam a medicina e salvam vidas todos os dias.